Viagem para Austrália

Numa visita ao país dos cangurus, somos cercadas de agências vendendo saltos de paraquedas, aulas de surf e a “autêntica experiência” com aborígenes ou hippies. Cabe à viajante verificar a segurança e a veracidade destas experiências, mas talvez esta seja a hora de ensaiar a dizer “sim!”. O sorriso amistoso dos locais e o esplendor da natureza, que é respeitada ao máximo, vão trazer à superfície as sensações mais intensas.

Localizada no hemisfério sul, a Austrália é uma grande ilha na Oceania que compreende também a Tasmânia e outras ilhas adjacentes. Está cercada pelos oceanos Índico e Pacífico. São mais de 66 mil quilômetros de costa que, sendo mais povoada que o centro do país, revela a segunda face da mesma moeda: a moderna urbe em contraste com o árido Outback (região desértica do centro).

Acredita-se que o país tenha sido habitado pela primeira vez há 40 mil anos pelos aborígenes. Nos séculos 16 e 17, várias nações europeias chegaram em seus navios às margens da Austrália, mas foi só em 1788 que os britânicos formaram colônia em Sydney. Os primeiros colonizadores eram prisioneiros com habilidades especiais-, para poderem desbravar a nova terra. A relação entre os aborígines e os novos colonizadores e o fato de ser um país relativamente novo e majoritariamente cristão, fazem com que a história australiana em muito seja parecida com a nossa.

E as semelhanças não param aí. Canberra, a capital e sede do governo, tal como Brasília, foi criada com o propósito de servir de sede do governo, para evitar brigas entre as principais cidades do país, Melbourne e Sydney, entre 1908 e 1927. Tem o mesmo caráter funcional e fica a 290 quilômetros de Sydney, no Território da Capital Australiana (ACT).

Para entender a geografia da Austrália, é preciso saber que ela está dividida em seis estados.

Nova Gales do Sul (New South Wales) é o estado mais populoso e o menor em tamanho. Mais de um terço dos australianos vivem nesse estado que abriga Sydney, a cidade que mais acolhe turistas. Por quê? Porque tem tudo o que se pode pedir: a névoa azulada dos canyons e desfiladeiros de Blue Mountains, a vibrante região de Circular Quay, à beira da baía, onde está a casa de espetáculos Opera House e o Jardim Botânico, as badaladas praias Bondi Beach e Coogee, os mercados de Paddington… a lista é interminável.

Comece por visitar a Torre de Sydney para ter uma visão em altitude de 360 graus da cidade. Nas paredes, fotos panorâmicas mostram o nome dos bairros e os principais pontos da cidade, uma ótima maneira de entender a geografia. Ao caminhar pela cidade, atenção: a região de Kings Cross, apesar de ser uma das áreas mais animadas da cidade, repleta de bares, restaurantes e hotéis de todos os tipos, pode ser um tanto perigosa.

No Circular Quay é gostoso fazer caminhadas à beira da baía. De lá, partem barcos que fazem passeios turísticos por vários pontos da cidade, sendo possível apreciar a vista do Sydney Harbour, o porto. Esta região histórica, chamada The Rocks, é um dos melhores lugares para ver os fogos de artifício no ano novo, já que dá de frente para a famosa Harbour Bridge, uma das mais icônicas pontes do mundo. Aí se concentram dezenas de restaurantes servindo frutos do mar. Apesar dos preços inflacionados, vale a pena conhecê-los, principalmente no verão, quando o clima é agradável e se tem uma excelente vista das maiores atrações de Sydney e das luzes da cidade, tornando o momento inesquecível.

Do porto partem também balsas que vão até Manly Beach, um bairro residencial que possui uma bela praia. É uma região arborizada, com vários cafés, restaurantes, um bom comércio e uma vida noturna agitada. Manly passa a sensação de estar numa cidade pequena, com um ar provinciano, contrário a Sydney. O calçadão à beira-mar é usado para caminhadas, passeios e até mesmo piqueniques e encontros entre amigos. A esplendorosa trilha Manly Scenic Walkaway deve sempre acabar com um mergulhinho no mar azul!

Aliás, quem prefere uma atmosfera relaxada ou boêmica, vai adorar Byron Bay. A antiga cidade hippie, agora invadida por mochileiros com grana, conquista pelas festas noturnas, as aulas de esportes aquáticos durante o dia, os workshops de meditação e terapias alternativas-, e os mercadinhos de produtos orgânicos e caseiros. Vale uma visita ao ponto mais leste da Austrália, junto ao farol do cabo Byron.

Victoria é o segundo estado mais populoso, sendo a cosmopolita e sofisticada Melbourne sua capital. Também chamada de “capital cultural da Austrália”, é onde se concentram os grandes museus do país: o Museu de Melbourne, considerado o maior da Austrália, detém uma larga coleção de obras de arte, incluindo a cultura aborígene e outros temas ligados à vida humana, à ciência e à tecnologia; o National Gallery of Victoria International, apresenta grande variedade artística mundial; o Centro Australiano de Arte Contemporânea; o Aquário de Melbourne, e muitos outros. Não faltam atrações inusitadas também. No Eureka Skydeck 88, um elevador leva ao 88° andar em 40 segundos, onde é possível entrar num cubo de vidro que “sai” do edifício. A protuberância fica a 300 metros do solo, mas para passar por esta experiência vertiginosa é preciso pagar uma tarifa à parte.

A capital de Victoria possui uma extensa programação cultural durante o ano todo. Há espetáculos artísticos, de teatro, festivais, shows de bandas internacionais e inúmeras exposições.

Fanáticos pelo esporte, os melbournianos criaram o futebol australiano em 1850, mais parecido com rugby do que o nosso futebol. Esta é sem dúvida a modalidade mais popular, mas eles também deliram com críquete, tênis (la acontece o campeonato Australian Open), corridas de cavalo e de Fórmula 1, sendo organizadores de importantes competições internacionais. É comum ver telões que mostram os eventos na arrojada Federation Square, onde a praça central é rodeada por modernas construções: o átrio, com sua calçada de restaurantes badalados, o anfiteatro, a galeria de arte nacional e a galeria ACMI (Australian Centre for the Moving Image), dedicada às artes da televisão e do cinema e até um centro de informações para os turistas. Aí mesmo, junto ao rio Yarra, o parque Birrarung Marr está sempre aprumado.

Toda essa modernidade não deixa Melbourne apagar o legado histórico deixado pelos colonos britânicos, com suas construções vitorianas cheias de charme. Para ver isso, basta passear na Collins Street, onde estão o elegante centro comercial Block Arcade e o Deck de Observação, com vistas espetaculares.

Há mais de três mil restaurantes, bares e cafés pela cidade que agradam a todos os gostos. Se o orçamento está apertado, procure bufês com preço único e sobremesa. Mas, com todo o respeito, a Austrália não é lugar para poupar. Os cafezinhos com mesa na calçada no bairro Southbank são irresistíveis. Também é possível comer bem e até ver pinguins no charmoso bairro de Saint Kilda. China Town, em Little Bourke Street, e o mercado de Queen Victoria, que está um pouco mais afastado do centro, são ótimos para compras. Este último é um dos preferidos dos chefs australianos. Em março, acontece por lá um festival gastronômico imperdível. Leia uma matéria da Mulher Viajante sobre o mercado Queen Victoria.

A noite de Melbourne lota os pubs as sextas feiras, por isso é sempre bom garantir um lugar chegando cedo, porque os bares fecham às 10 da noite ou até mesmo antes. Já as baladas, como a do concorrido cassino Crown, duram a noite toda.

Mas se você não curte metrópoles, a 140 quilômetros a sudoeste, chega-se à ilha Phillip. No seu Parque Natural é possível ver de perto colônias de animais marinhos, como pinguins, lobos marinhos e focas, além de coalas e cangurus.

Não saia deste estado sem fazer uma das road trip mais pitorescas de todas: a Great Ocean Road leva a belíssimos parques nacionais e os Doze Apóstolos, milenares rochas gigantes erguidas no meio do oceano – local perfeito para um pôr-do-sol romântico!

Ao sul de Victoria encontra-se o menor dos estados australianos, a Tasmânia, separada da Austrália continental pelo Estreito de Bass. Um quinto da Tasmânia é coberto por áreas verdes e parques nacionais montanhosos, sendo habitat de diversos animais selvagens. A Austrália também administra outras ilhas menores, como por exemplo, as ilhas Ashmore e Cartier, a ilha Christimas e as ilhas do Mar de Coral, entre outras.

Queensland é o segundo maior estado em tamanho. Sua capital, Brisbane, é a terceira cidade mais populosa da Austrália. É ideal para a realização de atividades físicas ao ar livre e esportes aquáticos durante todo o ano, já que, mesmo no inverno, os dias são mais ensolarados e quentes do que nos demais estados. Por isso mesmo, os 40 quilômetros que vão desde a fronteira com New South Wales e a ilha South Stradbroke Brisbane é da chamada Gold Coast (Costa Dourada). Aí está o cenário festivo de Surfers Paradise (que, como o nome diz, é o paraíso dos surfistas!) e a grande concentração dos parques temáticos Dreamworld, Sea World, Warner Bros Movie World, Wet’n’Wild e White Water World. As lojas e boutiques de luxo, campos de golfe, restaurantes, bares e casas noturnas agitadas dão glamour à cidade. Dos eventos mais conhecidos, figura o campeonato de surf, Quicksilver & Roxy Pro. Mas aqui, como não pode deixar de ser na Austrália, também não falta natureza. No interior de Gold Coast encontra-se uma das regiões mais biologicamente diversas de toda a Austrália, repleto de florestas tropicais nos parques Lamington e Border Ranges, que são considerados Patrimônios da Humanidade.

É em Queensland que se encontram três maiores joias australianas: Fraser Island, Whitsundays e a Grande Barreira de Corais. Vale a pena investir nos três lugares; os preços são altos, mas o que importa? Fraser Island é uma ilha com lagoas de água doce e transparente, floresta tropical e dunas de areia intocáveis. Para entrar é preciso permissão especial, bastante repelente e uma jipe, por isso pode ser vantajoso ir num tour desde Hervey Bay ou River Heads.

Também é mais prático (e barato!) conhecer as ilhas Whitsundays partindo num dos cruzeiros que saem de Airlie Beach. Mas não há dúvida que o prazer é maior se ficar hospedada numa das ilhas, podendo explorar as outras aos poucos. É possível chegar nos barcos que saem de Hamilton, que tem o único aeroporto das ilhas. Pense em areia impossivelmente fina e branca, águas azul-celeste, natureza exuberante… provavelmente está pensando na Whitehaven beach ou algumas das outras praias desta região.

Não há como apreciar a Grande Barreira de Corais, a maior extensão de recifes de corais do mundo (2 mil quilômetros), sem tirar o pé da terra firme. Há barcos saindo de Airlie Beach e Cairnes, embora estes costumam estar abarrotados. Os barcos saindo de Port Douglas, Mission Beach e Townsville são mais pacatos e, em geral, mais elegantes. Em Gladstone, Cooktown, Agnes Water e Town of 1770, os passeios levam a pontos menos turísticos mas nem por isso menos encantadores. Se você não tem intenção de se molhar, escolha um cruzeiro que tenha um barquinho a motor de fundo transparente, em que os guias vão contando fatos e curiosidades sobre a Grande Barreira.

O Território do Norte tem como capital a cidade de Darwin e abriga os mais famosos parques nacionais, como Uluru, onde está a gigante rocha que se ergue no meio do plano desértico, Ayers Rock. Rochas assim avermelhadas se multiplicam em Kata Tijuta, exibindo as chamadas Olgas. O Parque Nacional de Kakadu permite conhecer mais da cultura aborígene e observar a natureza exuberante da floresta.

A Austrália do Sul faz fronteira com todos os estados. Abrange as regiões mais áridas do continente e sua capital é Adelaide, a quinta maior cidade da Austrália. Lá se concentram os principais festivais de música, com mais de 500 realizados todos os anos.

A Austrália Ocidental é o maior estado em relação a sua área. A parte leste é majoritariamente desértico, enquanto a oeste é cercado por um extenso e preservado litoral. A capital é Perth, quarta cidade mais populosa da Austrália. A mineração é um dos principais setores do estado que mantém a economia em alta.

O churrasco, comumente chamado de “barbie” (de “barbecue” – os australianos adoram diminutivos!) é considerado típico na Austrália. Ao longo das ruas é costume encontrar pequenos “public barbacues”, onde qualquer pessoa pode levar as suas carnes e comida e grelhar sem custo algum. Os australianos são muito cuidadosos, mantêm limpos e arrumados, por isso leve instrumentos de limpeza para deixar tudo em ordem no final! Experimente carne de cangurú (ou “roo”, se lembra dos diminutivos?) e carne de crocodilo. O resto da cozinha Australiana é bastante parecida à britânica, sendo popular o peixe frito com batatas fritas e a torta de carne. No café da manhã, muitos comem pão com vegemite, uma pasta negra salgada e amarga feita com extrato de levedura. A propaganda diz que você “ou ama ou odeia”, e reflete bem o sentimento nacional sobre esta comida.

O Billy tea, chá feito na fogueira com folhas de eucalipto, também é tradicional, mas é a cerveja que os Australianos adoram. As marcas Victoria Bitter & Carlton Draught são mais populares do que a famosa Fosters. Os vinhos australianos vêm ganhando força nos últimos anos, com produtores como Rosemount Estate, Penfolds, Lindeman’s e Wynns Coonawarra Estate. As bebidas alcoólicas são bastante caras no país; uma garrafa de vinho de meio porte nunca custará menos de AUD$ 50. O vinho de casta baixa, chamado goon, é popular entre os mochileiros de orçamento apertado, vendido por metade desse valor em caixas de papelão e sacolas de alumínio. Não vamos mentir: o sabor é doloroso.

Para circular no país, a melhor forma é alugar um carro ou uma van ou usar o sistema de ônibus Greyhound. Você escolhe os destinos ou quantos quilômetros quer percorrer e pelo site você mesma marca a sua passagem. Se pretende viajar longas distâncias, as companhias aéreas nacionais são boa opção: Qantas, Tiger, Virgin, JetStar e Webjet. Para viajantes econômicas, os sites gumtree.com.au e sharemyride têm sistemas de caronas. Também é possível dirigir de A a B com vans de aluguel de forma gratuita, através do site Relocs. Quando uma pessoa aluga uma van em um ponto do país e a deixa em outro, muitas vezes as empresas precisam dos carros de volta no local inicial, e é aí que quem quer viajar sem pagar por isso entra. Funciona apenas para quem não tem pressa nem data para chegar, porque às vezes demora para liberarem uma van para o destino que você pretende ir.

Para chegar na Austrália, não há voos diretos. As companhias que oferecem voos com conexão são a TAM, a Qantas e a South African Airways. A viagem nunca demora menos de 20 horas.

Informações úteis

  • População: 23 milhões (2011)
  • Capital: Camberra
  • Moeda: dólar australiano AUD$
  • Idioma: inglês
  • Fuso horário: +13h em relação a Brasília
  • Clima: clima temperado, mas há variações devido ao tamanho do continente. No geral, os estados do norte têm clima quente a maior parte do tempo, enquanto os do sul têm invernos mais frios.
  • Dica esperta: leve repelente onde quer que vá e não se assuste com os animais que encontrar – baratas e aranhas gigantes fazem parte da experiência. Fique atenta para encontrar cangurus e wallabees (pequenos cangurus): eles andam por todo o lado! Seja bastante amigo da natureza, caso contrário será uma ofensa aos australianos. Se dirigir, pare sempre na faixa de pedestres para dar prioridade.
  • Visto para turismo: é necessário entregar os seguintes documentos na embaixada da Austrália em Brasília (SES QD 801 – Conj. K Lote 7
    Cep. 70200-010; Tel.: 61/ 3226-3111): passaporte válido durante todo o período da estadia; formulário 48R POR ou 48R preenchido e assinado; foto recente de tamanho 5×7 ou 3×4; pagamento da taxa de AUD$ 115. Condições de pagamento. É necessário cumprir os requisitos financeiros, de saúde e de caráter determinados pelo Departamento de Imigração do Governo Australiano, entregando para isso alguns documentos complementares especificados no site da Embaixada.
  • Vacina: não é necessária a menos que você esteja vindo ou tenha visitado um país infectado com febre amarela no período de seis dias antes de sua chegada.
  • Emergência: número da polícia, ambulância e bombeiros: 000. Consulado Geral do Brasil em Sydney
  • Feriados nacionais: Ano Novo (1 de janeiro), Dia da Austrália (26 de janeiro), Dia ANZAC, celebrado na Austrália e na Nova Zelândia para lembrar a batalha de Gallipolo, na Turquia. Nessa data, dezenas de soldados do ANZAC (Forças Armadas e da Nova Zelândia) perderam suas vidas na I Guerra Mundial (1 de abril), Aniversário da rainha (25 de Abril), Boxing Day (26 de dezembro) e feriados cristãos.
  • Eventos anuais: Festival de Gastronomia e Vinhos de Melbourne (março), Grande Prêmio da Austrália de Fórmula 1 em Melbourne (março), Festival Internacional de Comédia de Melbourne (março), Ópera no Porto de Sydney (março/abril), Vivid Sydney – um show de cores tomam conta do ambiente com muita criatividade. Os destaques do Vivid Sydney incluem a iluminação das velas do Sydney Opera House, além da apresentação de músicos nacionais e internacionais. Dura em torno de 18 dias (junho). Melbourne Cup Carnival – maior evento de corrida de cavalos do mundo. O Flemington Rececourse é palco das corridas mais famosas. A Melbourne Cup é o lugar mais popular do evento e feriado público em Victoria (novembro). Floriade, em Camberra – maior festival de flores da Austrália (setembro-outubro).

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