Viajar para Portugal

Conheça os destaques da “terrinha” em grande estilo – não esquecendo cultura, romance, boa gastronomia, comprinhas e até badalação.

1 – A arte de bem viver

Ancorados na margem do Rio Douro, os barcos rabelo são símbolo do divino vinho do Porto, uma das provas de que os nossos irmãos “portugas” sabem viver bem. Eram essas embarcações que outrora carregavam os tonéis desde os vinhedos do interior até as adegas que ficam na cidade de Gaia, na margem sul do rio, amadurecendo até a hora certa de saboreá-los. Hoje a travessia modernizou, mas o apreço internacional pelo néctar se mantém. Uma visita às adegas é essencial e consiste obrigatoriamente numa explicação sobre a produção e degustação.

Bom vinho pede bom bacalhau, uma especialidade que os portugueses gostam de reinventar todo o tempo. Analisando os cardápios dos restaurantes, facilmente chega-se à conclusão de que o número de versões é infindável: à Braz, à Zé do Pipo, à Gomes de Sá, e por aí vai… No restaurante Bica do Sapato, em Lisboa, o bacalhau é servido afogado em azeite, num ambiente alegre. Já no norte, o paladar pede sabores mais fortes, como a “francezinha”, uma espécie de sanduíche no prato com diversas camadas de carne, coberto de queijo e molho de cerveja.

Como sobremesa, tente-se com um dos doces portugueses que, regra geral, são um verdadeiro ataque ao valor glicêmico nacional. Em Lisboa, um exemplo disso é o pastel de Belém, o original confeitado desde 1837 na Antiga Confeitaria de Belém, que se distingue do pastel de nata comum por ser servido morno e polvilhado com canela.

2 – Os passeios históricos

Viajar em Portugal é reviver a sua história em todos os seus monumentos, palácios e ruinhas de pedra. A parte antiga da capital Lisboa, dá as boas vindas com atrações que são símbolo desse passado.

A Torre de Belém (inaugurada em1521), frente ao antigo porto do rio Tejo, comemora o poder naval lusitano da época. Ela faz companhia ao Padrão dos Descobrimentos, o monumento em forma de caravela onde figuram navegadores célebres como o Infante Dom Henrique. Da margem vê-se a Ponte 25 de Abril, homenagem à Revolução dos Cravos de 1974, que pôs fim à ditadura de direita Salazarista no país após 41 anos.

Embrenhando-se pela cidade, o Mosteiro dos Jerônimos (concluído em 1604) é uma bela construção manuelina e nomeado patrimônio mundial pela Unesco. Aí jaz o navegador que fez o caminho das Índias, Vasco da Gama, e o maior poeta português, Luís de Camões.

No norte, Guimarães é o berço da nação lusitana. Nomeada primeira capital do país, não é à toa que esta cidade foi também capital européia da cultura em 2012, já que está cheia de atrações que revelam o passado de Portugal. O cartão-postal da cidade é o despojado Castelo de Guimarães, uma construção do século X que está representado no brasão do país. Ele foi palco de lutas contra os mouros e é onde está a igreja – e até a pia! – onde foi batizado o primeiro rei português, Dom Afonso Henriques.

Contudo, quem busca um destino de conto de fadas deve rumar à pequena cidadela medieval de Óbidos, a 90 quilômetros de Lisboa. A vila é abraçada por uma muralha do século XIV e no centro erguem-se casinhas brancas com enfeites florais.

Há um castelo de pedra (que hoje é uma pousada) para completar o quadro. Uma vila bucólica e toda ajeitadinha, palco ideal para a feira medieval que acontece todos os anos no verão, onde todas as pessoas se vestem com roupas de época. Quem quer fazer parte desta jornada histórica e não se precaveu, pode alugar um traje.

3 – As boas compras

Há opções para todos os bolsos e estilos de compras. Prefere bater perna nos calçadões elegantes recheados de vitrines tentadoras? Então visite a região do Chiado em Lisboa, entre a rua do Carmo e rua Garrett. Nos prédios do século XVIII estão mais de 150 lojas desde Marc Jacobs e Hugo Boss, a Pepe Jeans e Sisley.

No Porto, a rua de Santa Catarina tem a mesma proposta, com marcas como Zara (que é significantemente mais barata na Europa) e Massimo Dutti. Nessa mesma rua, o shopping Via Catarina apresenta casas internacionais amigas do orçamento, como H&M e Women’s Secret, loja espanhola de lingerie e pijamas. A pausa das comprinhas deve ser feita no café Majestic, o local histórico preferido da autora J.K. Rowling, onde ela rascunhou o primeiro livro da saga Harry Potter. Os detalhes em Arte Nova lembram a confeitaria carioca Colombo.

Quem curte pechinchas vai adorar o Freeport Designer, o maior outlet da Europa, que fica em Alcochete, a 33 quilômetros de Lisboa. São 140 lojas de acessórios, roupas (Lacoste, Pierre Cardin, entre outros) e também produtos para crianças e bebês (Prénatal, Chicco e Toys’R’Us) a preços que batem as lojas brasileiras. E o melhor? Não precisa ter pressa, já que abre às 10h e fecha às 22h, ou meia-noite às sextas, sábados e feriados.

Já as garimpeiras de artigos únicos podem encontrar antiguidades na Feira do Entulho, um mercado de pulgas na praça medieval Largo da Oliveira, em Guimarães. Tome nota: a feira acontece apenas no primeiro sábado do mês.

Outra opção é comprar bordados e artesanato feito à mão vindos do norte, em Viana do Castelo. O Largo João Costa, dentro da cidade, é reduto desses produtos. Contudo, quem busca o selo de qualidade das entidades reguladoras deve dirigir-se a cinco quadras dali na loja Armanda Esperança, no número nove da Rua do Hospital Velho.

Um padrão de bordado que merece destaque é o dos lenços dos namorados, onde as bordadeiras escrevem quadras românticas no linho branco em letras coloridas e sempre com erros ortográficos propositais. A graça das rimas vem do tempo dos descobrimentos, quando as mulheres analfabetas ofereciam lenços aos amados que partiam nos barcos.

4 – A vida noturna nota 10

O fado é entoado com fervor nos bares e restaurantes de Coimbra e Lisboa, em casas como A Baiuca ou a Casa do Sr. Vinho, mas a cantilena poética contrasta-se às animadas festas que se espalham de norte a sul. A noite em Portugal começa só depois das zero horas nos barzinhos e depois das três da manhã nas baladas.

Em Lisboa, a região do Cais do Sodré é o lugar in, resultado da recente revitalização que viu bordéis virarem barzinhos artísticos com música ao vivo e petiscos. Na Rua Nova de Carvalho, o bar Pensão Amor substituiu as camas por poltronas confortáveis e agora atende jovens descolados.

O centro histórico do Porto também passou por uma make over e agora está repleto de bares animados. A Rua de Ceuta e a Rua da Galeria de Paris ficam lotadas quando jovens se reúnem nos minúsculos botecos e socializam no meio da via. O Porto reúne a celebração mais pitoresca do país: a de São João, entre 23 e 24 de junho.

As multidões descem a margem do rio Douro até a praia e, pelo caminho, levam martelos de plástico na mão, “batendo” (amigavelmente) nas cabeças uns dos outros como forma de desejar boas festas. Outras brincadeiras comuns é saltar fogueiras e esfregar a flor malcheirosa do alho poró nas caras uns dos outros.

Mas o pico da badalação portuguesa é num dos destinos preferidos de férias dos europeus, no Algarve, sul do país, onde há festas temáticas nas praias e eventos glamorosos. As curtições saem sempre estampadas nas revistas de fofoca portuguesas e é preciso saber que as casas noturnas abrem e fecham num piscar de olhos, ou mudam simplesmente de nome.

A dica é informar-se lá na cidade mesmo, para estar em cima dos acontecimentos, mas tenha alguns nomes em mente. O point mais clássico de todos é o Kadoc, em Vilamoura, que atrai os maiores DJs internacionais, como David Guetta e Eric Morillo.

Outro espaço que resiste ao passar do tempo é o sofisticado Le Club, que faz parte do hotel Grande Real Santa Eulália, em Albufeira, e tem parceria com o baluarte da noite londrina, a discoteca Ministry of Sound.

5 – Os recantos únicos

Todas sabemos que a literatura portuguesa é das mais ricas – mas não que esses livros são guardados em espaços igualmente impressionantes! A Livraria Lello, no Porto, foi considerada a terceira mais linda do mundo pelo jornal inglês The Guardian – mas nós, aqui na redação da Mulher Viajante, achamos que é número um. A escadaria vermelha em espiral, as estantes e os corredores em madeira escura e estilo neogótico e os vitrais suaves têm um requinte esplendoroso.

A 46 quilômetros de Lisboa, a biblioteca do convento de Mafra não fica atrás. Citada no livro Memorial do Convento, do autor ganhador do Nobel de Literatura José Saramago, a coleção de 40 mil livros está guardada num gigante salão em rococó e chão de mármore.

Falando em literatura, é imperativo visitar o lugar mais romântico da “terrinha”, aquele que inspirou Eça de Queirós: a vila de Sintra. O escritor passava temporadas no Hotel Lawrence’s, escrevendo o romance “Os Maias”, transformada em mini série da Rede Globo.

E não é para menos: Sintra transpira amor nos bosques, ruelas perfeitas e jardins aprumados. Para tornar a experiência ainda melhor, há charretes que sobem a serra até o Palácio da Pena. Beirando as estradinhas, se vêem fontes de água fresca e cascatas.

Do romântico ao inusitado, ao sul de Portugal, na pacata cidade de Évora, há uma atração do século XVII que se destaca pelo seu aspecto macabro. A Capela de Ossos, na igreja de São Francisco, é toda revestida de ossos e crânios de mais de cinco mil monges.

Construída para lembrar a transitoriedade da vida, há poemas sobre o tema dentro da capela e um aviso cravado na pedra da entrada: “Nós, ossos que aqui estamos, pelos vossos esperamos”. Então não vale a pena perder tempo, é preciso visitar Portugal. Agora!

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